As crianças se lançam ao mundo sem medo. Não questionam se vai dar certo, não trazem a tona os medos como justificativas ou empecilhos. Simplesmente se vão. O que as sustenta neste voo livre são os pilares das estruturas que nós os adultos conseguimos lhes transmitir ao longo de suas vidas. Quando se sentem prontas, elas simplesmente se vão. Se voltam aos pais pelo carinho, pelo respeito e pelo amor que aprenderam com eles. Mas inevitavelmente elas se vão. E à nós pais, resta o olhar que acompanha, de longe ou de perto, este voo. Com admiração, com satisfação. Com alegria.
Com muita propriedade, Saramago nos diz que os filhos são do mundo. É uma verdade cruel de certo ponto de vista, mas verdadeira se olharmos de outra forma. Cuidar dos filhos, ensiná-los, orientá-los para que possam seguir construindo suas vidas é tudo o que os pais podem oferecer.
Eles não nos pertencem, nos diz Gibram Kalil Gibran, embora os pais tenham a convicção de serem seus donos. Sim, “são meus filhos”, dizem. Quando peço a uma mãe, ou pai, que experimente por instantes a sensação de imaginar duas crianças se aproximando ao longe eles não conseguem me dizer: vejo duas pessoas ou duas crianças. Invariavelmente, me dizem: vejo meu filho vindo com outra criança. Ou seja, antes de ser uma criança, é meu filho. Este exercício simples e fácil é bastante revelador do sentimento de propriedade que temos sobre nossas crianças. Não deveria ser assim. Afinal, “nossos filhos não são de fato, nossos. Eles vem através de nós, mas não nos pertencem.” Estas sábias palavras de Gibram nos mostram o quanto é necessário ver antes de tudo a pessoa que existe em cada uma das crianças. Somente assim poderemos entender e respeitar estas pequenas pessoas que estão, durante um pequeno espaço de tempo, sob a nossa tutela.
As mães boas são as mães que se tornam desnecessárias, nos diz Winnicott. Quando o filho estiver pronto para ir, a mãe não será mais necessária como fonte de alimento, como fonte de ensinamento, como fonte. Será então, um porto seguro, onde o filho poderá recorrer quando precisar e quando ele mesmo decidir.
Isto também é difícil de aceitar, mas é necessário que se entenda.
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