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Tem Cura, doutor?

Atualizado: 6 de out. de 2020


Doutor, e tem cura? A pergunta veio acompanhada da angústia a que o casal estava submetido nos últimos meses. Observavam em Ricardo, comportamentos diferentes das crianças de 2 anos.

Quando ainda era bebê, Luíza já tinha observado que o menino não lhe correspondia da mesma forma que o sobrinho, que havia nascido apenas um mês depois. A cunhada lhe tranquilizava dizendo que as crianças eram diferentes e que cada uma tinha seu tempo. Mas a mãe do menino não se conformava. Antonio precisamos descobrir o acontece com nosso filho, dizia ao marido. Ele, por sua vez, desconsiderava os apelos da mulher, não querendo acreditar que poderia haver algo errado com o filho. Mas, querido, ele parece não se importar comigo, não demonstra que fica feliz quando eu o pego no colo, parece não me escutar, e... está bem Luiza! Já chega. Não fique inventando coisas. Nosso filho não tem nada. É um bebê saudável e pronto! E, assim, o bebê Ricardo crescia confirmando cada vez mais as suspeitas da mãe de que havia algo com ele.

A recusa do pai em sequer investigar o que Luíza dizia, a deixava muito triste e mais preocupada ainda. Começou a pesquisar e quando lia sobre certos sintomas que percebia em seu filho, isto a deixava bastante intrigada. Seu filho parece ficar alheio e concentrado numa mesma atividade, sempre que brinca? Não aceita mudar de brinquedos ou mesmo de brincadeiras novas? Parece aéreo e não escuta quando você lhe chama? Não gosta de barulhos, como estouro de balões? Então ela lembrou que no aniversário do primo, ficou muito mal e chorou bastante, colocando as mãos nos ouvidos, quando todos cantaram o “Parabéns a você” e a seguir distribuíram balões para as crianças convidadas. Quando elas começaram a estourar os balões para pegar os brinquedos que haviam dentro deles, Ricardo ficou desesperado e começou a gritar, contou ela para as amigas. Tive que sair da sala e ir embora para que ele se acalmasse. As outras mães não sabiam o que dizer, pois muitas percebiam também que o garoto não agia como os seus filhos.

Finalmente decidiu que iria buscar auxílio, mesmo sem o apoio do pai de Ricardo. Com 4 anos ele já estava bastante grande para ter superado muitas das dificuldades que a mãe percebia que ainda se mantinha. Não gostava de brincar com outras crianças, brincava sempre do mesma forma, mantendo uma certa rotina, etc.

Difícil aceitar a primeira opinião. Resolveu consultar outros especialistas. Falou com uma psicóloga infantil, com uma fonoaudióloga, pois o menino quase não falava, parecia ter muita dificuldade em pronunciar algumas palavras. Consultou também uma pediatra e observou que eles não eram unânimes nas suas falas. Alguns até lhe disseram que esperasse mais um pouco, talvez quando crescesse o menino superasse estas dificuldades. Luíza ficou muito surpresa com esta opinião e isto a deixou mais confusa ainda. A psiquiatra lhe sugeriu que falasse com um neuro pediatra.

Estou cansada, confessou um dia para sua mãe. A vó do menino tentou acalmá-la, dizendo que não deveria desistir, pois dos filhos a gente nunca pode desistir, minha querida, respondeu-lhe a senhora. Você tem razão mamãe. Vou falar seriamente com Antonio. Ele, finalmente entendeu que seria preciso buscar ajuda.

Doutor e o que devemos fazer? Esta situação tem cura? Minha esposa já conversou com tantos profissionais. Respondendo a sua pergunta, em primeiro lugar. Não se trata de cura, pois não estamos diante de uma doença. Sim, isto mesmo. Não é uma doença. É um quadro em que a criança apresenta-se com comportamentos diferenciados e tem algumas características específicas que lhe trazem dificuldades. No convívio social, na comunicação, na sociabilidade, disse o médico. Precisaremos de vários profissionais, mas eu garanto a vocês que se fizermos um acompanhamento adequado, com cada um deles, seu filho conseguirá viver de modo muito melhor adaptado à sociedade. Pois esta é a grande questão que envolve a vida destas crianças, portadora deste transtorno. Tem dificuldade de se comunicar, preferem manter comportamentos repetitivos, precisam de uma rotina que lhes dê segurança. Não conseguem se expressar afetivamente com tranquilidade. Enfim, há uma série de situações que poderia enumerar para vocês, mas não é o momento agora. Precisamos iniciar as avaliações com o menino, para depois estabelecer um plano de trabalho que envolve também os outros profissionais.

Antonio e Luíza, finalmente ficaram mais tranquilos, pois perceberam a tranquilidade deste médico, um neuropediatra, que parecia estar seguro quanto aos encaminhamentos que deveriam ser feitos.

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